Questões de gênero e relações étnico-raciais na Educação em Ciências: uma revisão na literatura

Gender issues and ethnic-racial relations in Science Education: a literature review

Autores

DOI:

10.31792/rc.v20i38.8008

Resumo

A questão suleadora deste artigo é: quando, como e onde as pesquisas na área de Educação em Ciências, publicadas como artigos, têm abordado mulheres negras no campo científico? Para respondê-la, realizou-se uma revisão sistemática de literatura, a partir de buscas no Portal de Periódicos Capes. Foram encontrados 79 artigos, dos quais 10 foram selecionados para o estudo e, posteriormente, foi feita a análise de conteúdo. Dentre outras coisas, os resultados revelam, dentro do corpus estudado, que os sujeitos que pesquisam sobre mulheres negras na ciência são mulheres negras (40%), seguidas de mulheres brancas e homens brancos (24%) e, por fim, homens negros (12%). Além disso, aponta que os principais temas abordados são:  mulheres negras no ensino superior; proposta didática e/ou intervenção pedagógica; escrevivências; e críticas à invisibilização de mulheres negras na produção científica.

Palavras-chave: Ensino de Ciências; Escrevivência; Interseccionalidade.

 

Abstract

The guiding question of this article is: when, how and where did research in the field of Science Education, published in the form of articles, address black women in the scientific field? To answer it, a Systematic Literature Review was carried out based on searches in the Capes Periodicals Portal. Of the 79 articles found, 10 were selected for the study and, subsequently, the content analysis was performed. Among other things, the results reveal, within the studied corpus, that the subjects who research black women in Science are black women (40%), followed by white women and white men (24%) and, finally, black men (12 %) and that the main subjects of the publications are about black women in Higher Education; didactic proposal and/or pedagogical intervention; writings; and criticisms of the invisibilization of black women in scientific production.

Keywords: Science Education; Writing Experience; Intersectionality.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Lohrene de Lima da Silva , Universidade Federal do Rio de Janeiro

Doutoranda em Educação em Ciências e Saúde pelo Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mestra em Ensino de Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Ana Lúcia Nunes de Sousa, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Professora Adjunta no Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde, com atuação no Laboratório de Vídeo Educativo e no Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Saúde. Doutora em Comunicação e Jornalismo e mestra em Comunicação e Cultura. 

Referências

AKOTIRENE, C. Interseccionalidade. São Paulo: Pólen, 2019.

AQUINO, E. M. L. Gênero e ciência no Brasil: contribuições para pensar a ação política na busca da equidade. In: BRASIL. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Encontro nacional pensando gênero e ciência: núcleos e grupos de pesquisas. Brasília, 2006, p. 11-18.

ASSUMPÇÃO, M. As representações da mulher profissional brasileira e norte-americanas construídas pela mídia impressa. 2008. 147 f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.

BASTOS, M. A. ; CAMARGO, M. J. R. ; BENITE, A. M. C. Cartografias femininas negras como estratégia de divulgação científica: a experiência do “investiga menina!”. Experiências em Ensino de Ciências (UFRGS), Cuiabá, v. 17, n. 3, p. 275-303, 2022.

BENITE, A. M. C.; BASTOS, M. A.; VARGAS, R. N.; FERNANDES, F. S.; FAUSTINO, G. A. A. Cultura africana e afro-brasileira e o ensino de química: estudos sobre desigualdades de raça e gênero e a produção científica. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 34, p. e193098, 2018.

BENITE, A.; SILVA, J.; ALVINO, A. Ferro, Ferreiros e forja: o ensino de química pela lei no 10.639. Educação em Foco, Juiz de Fora, v. 21, n. 3, p. 735–768, 2017.

BENTO, M. A. S. Pactos narcísicos no racismo: branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público. 2002. 185 f. Tese (Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano) - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.

BUSKO, P. S. Escrevivências Decoloniais: o Movimento do Feminismo Agroecológico como um Modelo de Educação Informal no Vale do Ribeira (SP). Revista de Ensino, Educação e Ciências Humanas, v. 20, n. 3, 2019.

CHASSOT, A. A ciência é masculina? É, sim senhora! 6. ed. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2013.

COLLINS, P. H. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. São Paulo: Boitempo Editorial, 2019.

CRENSHAW, K. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Revista Estudos Feministas, v. 10, n. 1, p. 171- 188, 2002.

CRENSHAW, K.W. A interseccionalidade na discriminação de raça e gênero. In: VV. AA. Cruzamento: raça e gênero. Brasília: Unifem, 2004.

DASTE, D. Vamos falar de ciência? Revista Mulheres na Ciência, edição 1, 2019. Disponível em: https://www.britishcouncil.org.br/sites/default/files/d1_revista.pdf. Acesso em: 02 jan. 2024.

DAVIS, A. Mulheres, Cultura e Política. São Paulo: Boitempo, 2017.

DE ARAÚJO, B. S. B.; ROCHA, D. M.; VIEIRA, F. P. Pensando num ensino de ciências decolonial a partir da poesia “Eu-mulher” de Conceição Evaristo. Filosofia e Educação, Campinas, v.13, n.1, p. 1917-1937, 2021.

DE PAULA, T. B.; DE LIMA, V. K. A.; DE SOUZA, M. S.; CABRAL, L. F. E.; DE SOUZA, A. L. N. MULHERES NEGRAS NA CIÊNCIA: Uma revisão sistemática de literatura. In: XI Congresso Brasileiro de Pesquisadores/as Negros/as. Negras, escrevivências, interseccionalidades e engenhosidades. Curitiba/ PR. UFPR, 09 a 12 de novembro de 2020.

DINIZ, I. G. A.; DINIZ, L. N.; SANTOS, L. R. F. Uma proposta de sequência didática para ensino de gráficos estatísticos a partir da interseccionalidade entre sexo e raça com temáticas de uma análise socioeconômica. Revista Binacional Brasil Argentina, v. 9, n. 1, p. 331-358, 2020.

DO NASCIMENTO, B. I. S.; DE CARVALHO, I. V.; DA COSTA, F. A. G. A sala de aula no contexto de (Pós) pandemia: ressignificando conteúdos de Ciências a partir de textos escreviventes. Dialogia, São Paulo, n. 36, p. 205-219, 2020.

EVARISTO, C. Becos da Memória. Rio de Janeiro: Pallas, 2018.

FAUSTINO, G. A. A.; VARGAS, R. N.; BERNARDES, C. A. C.; SILVA, L. R.; BASTOS, M. A.; OLIVEIRA, M. C. DE; BENITE, C. R. M.; BENITE, A. M. C. Mulheres negras nas exatas: debates em espaço de educação não formal. LabCiencia con noticias técnicas del laboratorio, v. 33, p. 219-234, 2022.

FAUSTINO, G. A. A; VARGAS, R. R.; BERNARDES, C. A. C.; SILVA, L. R.; BASTOS, M. A.; DE OLIVEIRA, M. C.; BENITE, C. R. M.; BENITE, A. M. C. Mulheres negras nas exatas: debates em espaço de educação não formal. Educación Química, México, v. 33, n. 2, 219-234, 2022.

FERREIRA, L. Menos de 3% entre docentes da pós-graduação, doutoras negras desafiam racismo na academia. Gênero e Número, Mulheres na Ciência, Edição 10, 2018. Disponível em: https://www.generonumero.media/reportagens/menos-de-3-entre-docentes-doutoras-negras-desafiam-racismo-na-academia/. Acesso em: 02 jan. 2024.

GALVÃO, T. F.; PEREIRA, M. G. Revisões sistemáticas da literatura: passos para sua elaboração. Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v. 23 n. 1, 183-184, 2014.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

GÓIS, J. B. H. Quando raça conta: um estudo de diferenças entre mulheres brancas e negras no acesso e permanência no ensino superior. Rev. Estud. Fem., Florianópolis, v. 16, n. 3, 743-768, 2008.

hooks, b. Ensinando a transgredir: a educação como prática de liberdade. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2017.

LIMA, B. S. Teto de vidro ou labirinto de cristal? as margens femininas das ciências. 2008. 133 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade de Brasília, Brasília, 2008.

LOURO, G. L. Currículo, gênero e sexualidade. Porto: Porto Editora, 2000.

MARCOLIN, C.; LUDWING, Z. Representatividade da mulher negra. Revista Mulheres na Ciência. Rio de Janeiro: British Council, 2019. Disponível em: https://www.britishcouncil.org.br/sites/default/files/d1_revista.pdf. Acesso em: 02 jan. 2024.

MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde. 12. ed. São Paulo: Hucitec-Abrasco, 2010.

PEIXOTO, F. L. Encruzilhada de saberes em tempos de cólera: currículo decolonial e pedagogias da escrevivência. Revista Teias, Rio de Janeiro, v. 21, n. 62, p. 116-130, 2020.

PEREIRA, A. C. O.; ELIAS, M. A. A invisibilidade da mulher negra na Ciência: uma análise a partir de livros didáticos de Ciência e Biologia. Revista Educar Mais, v. 5, n. 3, p. 491-499, 2021.

PINHEIRO, B. C. S. @Descolonizando_saberes: mulheres negras na Ciência. São Paulo: Ed. Livraria da Física, 2020.

PINHEIRO, B. C. S. Educação em Ciências na Escola Democrática e as Relações Étnico-Raciais. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, cidade, v. 19, p. 329-344, 2019.

PINHEIRO, B. C. S. História preta das coisas: 50 invenções científico-tecnológicas de pessoas negras. São Paulo: Ed. Livraria da Física, 2021.

PINHEIRO, B. C. S.; ROSA, K.; CONCEIÇÃO, S. “Linda e preta”: discutindo questões químicas, físicas, biológicas e sociais da maquiagem em pele negra. Conex. Ci. e Tecnol., Fortaleza/CE, v. 13, n. 5, p. 07 - 13, 2019.

PINHEIRO, B. C. S; ROSA, K. Descolonizando saberes: a Lei 10.639/2003 no Ensino de Ciências. São Paulo: Ed. Livraria da Física, 2018.

ROSA, K.; ALVES-BRITO, A.; PINHEIRO, B. C. S. Pós-verdade para quem? Fatos produzidos por uma ciência racista. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, Santa Catarina, v. 37, p. 1440-1468, 2020.

SANTOS, A. P. S.; COSTA, M. L. F. O avanço feminino na educação superior brasileira: perspectivas de gênero, raça e classe. Revista Brasileira da Educação Profissional e Tecnológica, [S.l.], v. 2, n. 21, p. 1-19, 2021.

SANTOS, J.; LOPES, M. Representação feminina na ciência: um olhar sob a perspectiva étnico-racial nos livros didáticos de física. Revista de Pesquisa Interdisciplinar, Cajazeiras, n. 2, suplementar, p. 58-69, 2017.

SCHIEBINGER, L. O feminismo mudou a ciência? Tradução Raul Fiker. Bauru - SP: EDUSC, 2001.

SCOTT, J. W. O enigma da igualdade. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 13, n. 1, p. 11-30, jan./abr. 2005.

SILVA, A. S.; PINHEIRO, B. C. S. Químicxs Negros e Negras do século XX e o racismo institucional nas ciências. Revista Exitus, Santarém, v. 9, p. 121-146, 2019.

SILVA, E.; CAMARGO, M.; BENITE, A. Cerveja egípcia? Educação para as relações étnico-raciais (erer) na formação docente em química. Química Nova (on-line), v. 45, p. 235-244, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.21577/0100-4042.20170833. Acesso em: 08 jan. 2024.

SILVA, F. F.; RIBEIRO, P. R. C. Trajetórias de mulheres na ciência: “ser cientista” e “ser mulher”. Ciênc. Educ., Bauru, v. 20, n. 2, p. 449-466, 2014.

SILVA, L. L. Estudo do capital científico de meninas do Ensino Médio da rede pública estadual do Rio de Janeiro. 2021. 100 f. Dissertação (Mestrado profissional em Ensino de Química) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021.

SILVA, M. A.; GONÇALVES, H. J.; BONI, B. R. A construção do protagonismo negro: a importância do núcleo afro-brasileiro e indígena de ilha solteira (NABISA) na formação de uma bióloga. Inter-Ação, Goiânia, v.46, n.3, p. 1413-1428, 2021.

SILVA, W. D. A.; COSTA, E. A. S.; PINHEIRO, B. C. S. Educação para as relações étnico-raciais na constituição curricular da Licenciatura em Química no Ceará: que cor tem a formação de professores (as)? Revista Cocar, Belém, v. 15, p. 1-21, 2021. Disponível em: https://periodicos.uepa.br/index.php/cocar/article/view/4715. Acesso em: 01 jan. 2024.

SOARES, L. V.; MACHADO, P. S. "Escrevivências" como ferramenta metodológica na produção de conhecimento em Psicologia Social. Rev. psicol. polít., São Paulo, v. 17, n. 39, p. 203-219, 2017.

TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas. 1987.

VERRANGIA, D. Conhecimentos tradicionais de matriz africana e afro-brasileira no ensino de Ciências: um grande desafio. Revista África e Africanidades, Rio de Janeiro, v. 2 n. 8, p. 705–718, 2010.

Downloads

Publicado

05/06/2024
Métricas
  • Visualizações do Artigo 365
  • pdf downloads: 128

Como Citar

DE LIMA DA SILVA , L.; NUNES DE SOUSA, A. L. Questões de gênero e relações étnico-raciais na Educação em Ciências: uma revisão na literatura : Gender issues and ethnic-racial relations in Science Education: a literature review. Revista Cocar, [S. l.], v. 20, n. 38, 2024. DOI: 10.31792/rc.v20i38.8008. Disponível em: http://177.70.35.171/index.php/cocar/article/view/8008. Acesso em: 22 nov. 2024.